Esta sequencia didática é uma
adaptação das oficinas das olimpíadas de língua portuguesa, com o intuito de
adaptar as propostas das olimpíadas para a realidade das recuperações de verão.
Nessas oficinas, busca-se uma democratização dos usos da língua portuguesa,
perseguindo reduzir o “iletrismo” e o fracasso escolar. O objetivo maior desta
sequencia é, em alguns dias, transformar uma turma de jovens alvoroçados em
cronistas capazes de escrever sobre o lugar onde moram com humor, crítica e
sensibilidade...
Em um primeiro momento, lembramos, a
partir da leitura de várias crônicas, e da audição de outras, que uma crônica
deve, sempre, ter:
·
Título
sugestivo.
·
Cenário
curioso.
·
Foco
narrativo, ou seja, o autor escolhe o ponto de vista que vai adotar: escreve na
primeira pessoa (eu vi, eu fiz, eu senti) e se transforma em parte da narrativa
– é o autor-personagem; ou fica de fora e escreve na terceira pessoa (ele fez,
eles sentiram) – é o autor-observador.
·
Uma
ou várias personagens, inventadas ou não – o autor pode ser uma delas.
·
Enredo,
isto é, narra um momento, um acontecimento, um episódio banal do dia a dia, e a
partir daí passa uma ideia, provoca uma emoção.
·
Tom,
que pode ser poético, humorístico, irônico ou reflexivo.
·
Linguagem
coloquial (uma “conversa” com o leitor).
·
Desfecho.
Na segunda etapa, temos a escolha de
um assunto, de uma situação, e o tom da narrativa. Ajudamos os alunos a
escolher um tema, um assunto sobre o que escrever e o tom que vão usar. É um
empurrãozinho essencial para que vençam o medo do papel em branco!
Pedimos aos alunos que fiquem em
silêncio, por um ou dois minutos, e pensem: nos lugares que frequentam; nas
pessoas com as quais convivem; nos assuntos que estão circulando na cidade, na
comunidade; em algo que tenha ocorrido no dia a dia deles e chamado a atenção.
É dessa simples observação que cada um deles escreverá uma crônica.
Em seguida, os incentivamos a
compartilhar com o grupo a situação que identificaram mentalmente.
O próximo passo é escolher o tom –
poético, bem-humorado, crítico, lírico – com que vão narrar o tema e optar pelo
foco narrativo: na primeira pessoa (autor-personagem) ou na terceira pessoa
(autor-observador)?
Demos-lhes tempo para escolher o tom
e o foco narrativo que mais lhes agrade; em seguida, pedimos a cada um deles
que escrevesse uma crônica.
E aqui estão elas:
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PRODUÇÃO D@S ALUN@S
(E UMA DO PROFESSOR!!!)
Me apaixonei
Por Eduarda Vanessa Reichert
A lua cheia,
sexta-feira, o céu estrelado, 13 de janeiro de 2012, segunda sexta-feira do
ano. Era por volta das 11 horas, quando o celular toca, lembro-me como se fosse
agora, peguei-o, meus lábios sorriam acho que meus olhos brilhavam então se
encheram de água, uma lágrima caiu. Mas eu não estava triste não! Era uma lágrima
de alegria, nem eu não sei explicar o porquê de uma lágrima naquele momento.
Atendi o celular, e uma voz doce e suave falou como se estivesse sussurrando em
meu ouvido, me arrepiei dos pés a cabeça. Então suavemente ele me convidou para
sair, e eu permaneci em silencio, mais lágrimas caíram, ele então repetiu o
pedido, e eu aceitei... Nessa noite não voltei embora quando me dei por conta
já havia amanhecido, olhei para o lado e não o vi, então ele entra quarto com
uma bandeja, me trouxe café na cama. Sentou-se ao meu lado e ficou me admirando
em quanto eu tomava café. Quando terminei, ele pegou a bandeja levou ate a pia
na cozinha e voltou para o quarto. Era por volta das 9 horas da manhã de
sábado, levantei, fui ao banheiro, lavei o rosto, escovei meus dentes. Quando
voltei ao quarto, antes que eu fala-se qualquer coisa ele me beijou.
APAIXONEI-ME! Na neste momento o coração
bateu forte, me arrepiei dos pés a cabeça, e uma lágrima de amor caiu, meus
lábios ao se desencostarem dos dele sorriram. Sabe aquele momento que parece
que o mundo é só você e a pessoa amada? Foi assim que me senti, parecia que o
mundo girava apenas em torno de nós... Ele me deu outro beijo, e depois
sussurrou baixinho em meu ouvido:
- Eu te amo!
Minha loirinha linda...
Arrepiei-me dos
pés a cabeça outra vez, deu-me outro beijo, e me abraçou forte, sabe aqueles
abraços apaixonados? Com vontade aqueles abraços que por mais que queira você
nunca vai esquecer? É foi um abraço assim que ele me deu... Senti-me tão feliz
como nunca havia me sentido. Mas infelizmente eu precisava ir embora o tempo
havia passado rápido, era por volta das 10h20min, ele me deixou em frente a
minha casa e deu-me um beijo, mas um beijo que jamais vou esquecer... E disse:
- Te pego às
10h!
Botou o
capacete e se foi... Eu estava me sentindo tão feliz, que mal conseguia conter
a minha felicidade. Mas alguma coisa me deixava preocupada, algo fazia eu me
sentir com um aperto no peito, alguma coisa me dizia, que ia acontecer algo
nesta noite... Mas o que?
Meu sexto
sentido nunca erra. Era quase 10 horas da noite, quando ele mandou um SMS;
- Em 5 minutos te pego na tua casa. Beijos, eu
te amo!
Meu coração se
apertou, bateu mais forte, porém apertado, sabe aquela sensação ruim? É ela me
sufocava, a preocupação não me deixava. Passou-se 15 minutos, pensei pra mim (é
só um atraso), mas então se passou 30 minutos e ele ainda não havia chegado
minha preocupação só aumentava, eu ligava e o celular dava na caixa postal, o
que havia acontecido?
Pensaram 2
horas e eu muito aflita e preocupada, mas veio o sorriso quando vibra o
celular, era ele ligou todo nervoso achou que eu estava brava, se explicou
disse que tinha caído de moto que estava no hospital, mas que estava tudo bem e
que já estava a caminho da minha casa, disse também que me amava, e que em
menos de 20 minutos iria chegar.
Não deu 10
minutos ele estava lá, todo machucado, com os joelhos e cotovelos todos
ralados, me pediu desculpas pela demora (como se ele tivesse caído por que
quis).
Ele pegou em
minha mão, se ajoelhou em meus pés e me pediu em namoro. Eu não sabia o que
falar, eu só havia ficado duas vezes com ele, mas cada vez que ele chegava perto
de mim meu coração disparava. Dei um sorriso me ajoelhei em frente a ele e lhe
dei um beijo, aceitei o pedido. Decidimos não sair, eu estava me sentindo a
pessoa mais feliz do mundo. Apesar do tombo ele também estava muito feliz. Nunca
gostei tanto de alguém como gostei desse menino, até hoje sinto algo por ele...
O homem e o vento
Por Rafael Alexandre
Olhando assim,
nem parece, confesso. O rosto dele é um rosto bastante comum, o cabelo escuro,
curto, os olhos castanhos. Iguais a centenas que, tenho certeza, existem por
ai. Mas tente confiar em mim quando digo que este é um homem bastante
diferente. Ele não tem um passado nebuloso, não é nenhum tipo de fugitivo ou
assassino tentando esconder-se nessa minúscula cidade, ou um partidário da vida
simples enfiando a cara nas plantações para não pensar na fome do mundo. Tão
pouco é um santo, sem máculas ou erros, vivendo uma pura vida. Não, ele as
teve, as falhas, mas, sim sim, eu sei, isso só faz dele mais um no planeta.
O que faz dele especial – serei mais direto,
prometo – é que ele ama. Espere um pouco, eu sei, eu sei, mas olha, isso é uma
simplificação absurda, e bastante discutível. Se todos que dissessem amar
realmente amassem, o mundo não seria essa confusão. Mas não é esse meu ponto.
Conto então quando ele apaixonou-se, talvez te pareça que essa história valha
mais a pena, que tal?
Era um dia
desses de divisa de inverno com a primavera, o céu de um azul impossível, o sol
era o suficiente para agradar, mas não o suficiente para esquentar. Ele estava
andando no meio da plantação de trigo, gostava da sensação das plantas já altas
roçando nos dedos, enquanto admirava a safra que viria. Mas o que realmente o
fazia acordar àquela hora matutina era as ondas que se formavam no trigal, o
vento distante brincando de pega consigo, fazendo rodopiar as folhas velhas que
se libertavam da neve, como um gatinho invisível, que se deleitava com a
bobagem de um movimento circular. Admirava ele a beleza do ar em movimento, sua
suavidade contra a pele, sua força contra o moinho, fazendo girar o que dezenas
de homens não movimentariam. Com um misto de fascínio e medo, observava os
ventos poderosos da tempestade, inconstantes e imperativos. Com doçura
acariciava a brisa marinha, tão cheia de cheiros, com os dedos estendidos, os
olhos fechados, a cabeça levemente inclinada para trás.
Ele amava, e
não tinha dúvidas. Amava o vento. Impossível, eu sei. Mas essa não raramente é
a matéria prima das coisas mais fantásticas que acontecem por aqui, e tu,
melhor do que ninguém, sabes que a única diferença entre a literatura e o que
se convencionou chamar de realidade é que aquela, a literatura, tem que fazer
sentido...
O homem também
achou que era loucura, a princípio. Sua família sempre se perguntava o porquê
de um rapaz saudável, trabalhador – não bonito, realmente, e sim igual, como eu
disse, igual a tantos outros – nunca estar comprometido com ninguém. Alguns
namoros fortuitos, levianos como uma brisa, e mais nada. Ele tentava outras
vozes, outros toques, mas sua atenção sempre voltava para o trigo balançando,
para o moinho distante e para as folhas dançantes. Mas não exatamente para o
trigo, o moinho e para as folhas, mas para além deles, o que lhes dava vida,
graça, razão de ser: Sua alma, seu sopro de vida, seu vento. Quando deu-se por
conta, já era tarde, já acordava todo dia cedo e se jogava ao vento todo o dia,
entorpeci-se dia e noite pela sensação suave inconstante, volúvel, líquida de
estar amando.
E que amor
cruel era aquele.
O vento vinha
quando bem entendia, não quando ele precisava. Ele precisava do vento, o vento
não precisava dele: precisava de sol, e folhas, de areia e de mar, mas não
dele. Não importa o quanto sua tristeza fosse enorme, o quanto a solidão o
flagelava, o trigo, às vezes, teimava em não se mexer. Ele então tentou correr,
desesperado, atrás do vento. Sim, mas enamorados não pensam claramente. Corria
até, que irônico, faltar o seu ar... e um pouco além! Quando ele esta prestes a
alcançar, esticava as mãos e... bem, o vento escorria pelos seus dedos,
deixando, só e tolo, estendido no chão, choroso. E o vento, caprichoso, instantes
depois voltava e cobria-o de ar, de cheiro de mata e chuva. E de – por que não?
– amor.
Se você for
perguntar para ele o porquê dele ter prendido o vento, ele certamente lhe
responderá que foi desespero. Não, claro que nunca lhe perguntei, ninguém jamais
o fez... imagine só... Mas eu posso deduzir, não? Por que mais alguém faria
isso? Sabe-se somente que ele acordou um dia próximo ao verão, trazia um
estranho recipiente transparente nas mãos, esperou paciente a dança das
plantas, tão familiar, tão doce, abriu o tal vaso e com a certeza que só os
loucos, as crianças a os apaixonados têm, aprisionou o vento. Não havia mais
bailado de flores, nada mais de veludo invisível sobre a pele. Somente a
certeza alucinada da energia cativa no pote. Afortunado, correu para sua casa,
e no pedestal sentou o recipiente, com os olhos brilhando de satisfação – ou
seria de febre?
Longos dias de
quietude se passaram. A vela que iluminava durante toda noite o vento
encarcerado nunca tremia. O pomar ao redor da casa era o silêncio tangível. O
moinho jazia imóvel como o sonho dos descrentes. A vida em suma, perdera a
alma, esmagada entre o vidro e a tampa de cortiça.
Não será
preciso dizer que o homem caiu em si. Ele adorava o toque na pele, o arranhão
na epiderme, a vastidão das fragrâncias e suas possibilidades infinitas. Mas
amor, amor mesmo, ele amava a sua liberdade.
Dize-se – não
posso dar certeza, não estava lá, mas gosto de acreditar na lenda – dize-se,
repito, que quando o vento foi libertado, ele voou pra longe num ímpeto só e
parecia que nunca mais voltaria.
Mas voltou,
respondendo aos gritos desesperados do homem, seus eu te amos atirados, e o
ruído do ar batendo no trigo parecia o som – tão familiar – de uma voz, em uma
suave declaração.
Uma declaração
de amor eterno.
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