quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A ocasião faz o escritor



Esta sequencia didática é uma adaptação das oficinas das olimpíadas de língua portuguesa, com o intuito de adaptar as propostas das olimpíadas para a realidade das recuperações de verão. Nessas oficinas, busca-se uma democratização dos usos da língua portuguesa, perseguindo reduzir o “iletrismo” e o fracasso escolar. O objetivo maior desta sequencia é, em alguns dias, transformar uma turma de jovens alvoroçados em cronistas capazes de escrever sobre o lugar onde moram com humor, crítica e sensibilidade...
Em um primeiro momento, lembramos, a partir da leitura de várias crônicas, e da audição de outras, que uma crônica deve, sempre, ter:
·         Título sugestivo.
·         Cenário curioso.
·         Foco narrativo, ou seja, o autor escolhe o ponto de vista que vai adotar: escreve na primeira pessoa (eu vi, eu fiz, eu senti) e se transforma em parte da narrativa – é o autor-personagem; ou fica de fora e escreve na terceira pessoa (ele fez, eles sentiram) – é o autor-observador.
·         Uma ou várias personagens, inventadas ou não – o autor pode ser uma delas.
·         Enredo, isto é, narra um momento, um acontecimento, um episódio banal do dia a dia, e a partir daí passa uma ideia, provoca uma emoção.
·         Tom, que pode ser poético, humorístico, irônico ou reflexivo.
·         Linguagem coloquial (uma “conversa” com o leitor).
·         Desfecho.

Na segunda etapa, temos a escolha de um assunto, de uma situação, e o tom da narrativa. Ajudamos os alunos a escolher um tema, um assunto sobre o que escrever e o tom que vão usar. É um empurrãozinho essencial para que vençam o medo do papel em branco!
Pedimos aos alunos que fiquem em silêncio, por um ou dois minutos, e pensem: nos lugares que frequentam; nas pessoas com as quais convivem; nos assuntos que estão circulando na cidade, na comunidade; em algo que tenha ocorrido no dia a dia deles e chamado a atenção. É dessa simples observação que cada um deles escreverá uma crônica.
Em seguida, os incentivamos a compartilhar com o grupo a situação que identificaram mentalmente.
O próximo passo é escolher o tom – poético, bem-humorado, crítico, lírico – com que vão narrar o tema e optar pelo foco narrativo: na primeira pessoa (autor-personagem) ou na terceira pessoa (autor-observador)?
Demos-lhes tempo para escolher o tom e o foco narrativo que mais lhes agrade; em seguida, pedimos a cada um deles que escrevesse uma crônica.
E aqui estão elas:
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PRODUÇÃO D@S ALUN@S
(E UMA DO PROFESSOR!!!)




Me apaixonei
Por Eduarda Vanessa Reichert 


A lua cheia, sexta-feira, o céu estrelado, 13 de janeiro de 2012, segunda sexta-feira do ano. Era por volta das 11 horas, quando o celular toca, lembro-me como se fosse agora, peguei-o, meus lábios sorriam acho que meus olhos brilhavam então se encheram de água, uma lágrima caiu. Mas eu não estava triste não! Era uma lágrima de alegria, nem eu não sei explicar o porquê de uma lágrima naquele momento. Atendi o celular, e uma voz doce e suave falou como se estivesse sussurrando em meu ouvido, me arrepiei dos pés a cabeça. Então suavemente ele me convidou para sair, e eu permaneci em silencio, mais lágrimas caíram, ele então repetiu o pedido, e eu aceitei... Nessa noite não voltei embora quando me dei por conta já havia amanhecido, olhei para o lado e não o vi, então ele entra quarto com uma bandeja, me trouxe café na cama. Sentou-se ao meu lado e ficou me admirando em quanto eu tomava café. Quando terminei, ele pegou a bandeja levou ate a pia na cozinha e voltou para o quarto. Era por volta das 9 horas da manhã de sábado, levantei, fui ao banheiro, lavei o rosto, escovei meus dentes. Quando voltei ao quarto, antes que eu fala-se qualquer coisa ele me beijou. APAIXONEI-ME!  Na neste momento o coração bateu forte, me arrepiei dos pés a cabeça, e uma lágrima de amor caiu, meus lábios ao se desencostarem dos dele sorriram. Sabe aquele momento que parece que o mundo é só você e a pessoa amada? Foi assim que me senti, parecia que o mundo girava apenas em torno de nós... Ele me deu outro beijo, e depois sussurrou baixinho em meu ouvido:
- Eu te amo! Minha loirinha linda...
Arrepiei-me dos pés a cabeça outra vez, deu-me outro beijo, e me abraçou forte, sabe aqueles abraços apaixonados? Com vontade aqueles abraços que por mais que queira você nunca vai esquecer? É foi um abraço assim que ele me deu... Senti-me tão feliz como nunca havia me sentido. Mas infelizmente eu precisava ir embora o tempo havia passado rápido, era por volta das 10h20min, ele me deixou em frente a minha casa e deu-me um beijo, mas um beijo que jamais vou esquecer... E disse:
- Te pego às 10h!
Botou o capacete e se foi... Eu estava me sentindo tão feliz, que mal conseguia conter a minha felicidade. Mas alguma coisa me deixava preocupada, algo fazia eu me sentir com um aperto no peito, alguma coisa me dizia, que ia acontecer algo nesta noite... Mas o que?
Meu sexto sentido nunca erra. Era quase 10 horas da noite, quando ele mandou um SMS;
 - Em 5 minutos te pego na tua casa. Beijos, eu te amo!
Meu coração se apertou, bateu mais forte, porém apertado, sabe aquela sensação ruim? É ela me sufocava, a preocupação não me deixava. Passou-se 15 minutos, pensei pra mim (é só um atraso), mas então se passou 30 minutos e ele ainda não havia chegado minha preocupação só aumentava, eu ligava e o celular dava na caixa postal, o que havia acontecido?
Pensaram 2 horas e eu muito aflita e preocupada, mas veio o sorriso quando vibra o celular, era ele ligou todo nervoso achou que eu estava brava, se explicou disse que tinha caído de moto que estava no hospital, mas que estava tudo bem e que já estava a caminho da minha casa, disse também que me amava, e que em menos de 20 minutos iria chegar.
Não deu 10 minutos ele estava lá, todo machucado, com os joelhos e cotovelos todos ralados, me pediu desculpas pela demora (como se ele tivesse caído por que quis).
Ele pegou em minha mão, se ajoelhou em meus pés e me pediu em namoro. Eu não sabia o que falar, eu só havia ficado duas vezes com ele, mas cada vez que ele chegava perto de mim meu coração disparava. Dei um sorriso me ajoelhei em frente a ele e lhe dei um beijo, aceitei o pedido. Decidimos não sair, eu estava me sentindo a pessoa mais feliz do mundo. Apesar do tombo ele também estava muito feliz. Nunca gostei tanto de alguém como gostei desse menino, até hoje sinto algo por ele...



O homem e o vento
Por Rafael Alexandre

Olhando assim, nem parece, confesso. O rosto dele é um rosto bastante comum, o cabelo escuro, curto, os olhos castanhos. Iguais a centenas que, tenho certeza, existem por ai. Mas tente confiar em mim quando digo que este é um homem bastante diferente. Ele não tem um passado nebuloso, não é nenhum tipo de fugitivo ou assassino tentando esconder-se nessa minúscula cidade, ou um partidário da vida simples enfiando a cara nas plantações para não pensar na fome do mundo. Tão pouco é um santo, sem máculas ou erros, vivendo uma pura vida. Não, ele as teve, as falhas, mas, sim sim, eu sei, isso só faz dele mais um no planeta.
  O que faz dele especial – serei mais direto, prometo – é que ele ama. Espere um pouco, eu sei, eu sei, mas olha, isso é uma simplificação absurda, e bastante discutível. Se todos que dissessem amar realmente amassem, o mundo não seria essa confusão. Mas não é esse meu ponto. Conto então quando ele apaixonou-se, talvez te pareça que essa história valha mais a pena, que tal?
Era um dia desses de divisa de inverno com a primavera, o céu de um azul impossível, o sol era o suficiente para agradar, mas não o suficiente para esquentar. Ele estava andando no meio da plantação de trigo, gostava da sensação das plantas já altas roçando nos dedos, enquanto admirava a safra que viria. Mas o que realmente o fazia acordar àquela hora matutina era as ondas que se formavam no trigal, o vento distante brincando de pega consigo, fazendo rodopiar as folhas velhas que se libertavam da neve, como um gatinho invisível, que se deleitava com a bobagem de um movimento circular. Admirava ele a beleza do ar em movimento, sua suavidade contra a pele, sua força contra o moinho, fazendo girar o que dezenas de homens não movimentariam. Com um misto de fascínio e medo, observava os ventos poderosos da tempestade, inconstantes e imperativos. Com doçura acariciava a brisa marinha, tão cheia de cheiros, com os dedos estendidos, os olhos fechados, a cabeça levemente inclinada para trás.
Ele amava, e não tinha dúvidas. Amava o vento. Impossível, eu sei. Mas essa não raramente é a matéria prima das coisas mais fantásticas que acontecem por aqui, e tu, melhor do que ninguém, sabes que a única diferença entre a literatura e o que se convencionou chamar de realidade é que aquela, a literatura, tem que fazer sentido...
O homem também achou que era loucura, a princípio. Sua família sempre se perguntava o porquê de um rapaz saudável, trabalhador – não bonito, realmente, e sim igual, como eu disse, igual a tantos outros – nunca estar comprometido com ninguém. Alguns namoros fortuitos, levianos como uma brisa, e mais nada. Ele tentava outras vozes, outros toques, mas sua atenção sempre voltava para o trigo balançando, para o moinho distante e para as folhas dançantes. Mas não exatamente para o trigo, o moinho e para as folhas, mas para além deles, o que lhes dava vida, graça, razão de ser: Sua alma, seu sopro de vida, seu vento. Quando deu-se por conta, já era tarde, já acordava todo dia cedo e se jogava ao vento todo o dia, entorpeci-se dia e noite pela sensação suave inconstante, volúvel, líquida de estar amando.
E que amor cruel era aquele.
O vento vinha quando bem entendia, não quando ele precisava. Ele precisava do vento, o vento não precisava dele: precisava de sol, e folhas, de areia e de mar, mas não dele. Não importa o quanto sua tristeza fosse enorme, o quanto a solidão o flagelava, o trigo, às vezes, teimava em não se mexer. Ele então tentou correr, desesperado, atrás do vento. Sim, mas enamorados não pensam claramente. Corria até, que irônico, faltar o seu ar... e um pouco além! Quando ele esta prestes a alcançar, esticava as mãos e... bem, o vento escorria pelos seus dedos, deixando, só e tolo, estendido no chão, choroso. E o vento, caprichoso, instantes depois voltava e cobria-o de ar, de cheiro de mata e chuva. E de – por que não? – amor.
Se você for perguntar para ele o porquê dele ter prendido o vento, ele certamente lhe responderá que foi desespero. Não, claro que nunca lhe perguntei, ninguém jamais o fez... imagine só... Mas eu posso deduzir, não? Por que mais alguém faria isso? Sabe-se somente que ele acordou um dia próximo ao verão, trazia um estranho recipiente transparente nas mãos, esperou paciente a dança das plantas, tão familiar, tão doce, abriu o tal vaso e com a certeza que só os loucos, as crianças a os apaixonados têm, aprisionou o vento. Não havia mais bailado de flores, nada mais de veludo invisível sobre a pele. Somente a certeza alucinada da energia cativa no pote. Afortunado, correu para sua casa, e no pedestal sentou o recipiente, com os olhos brilhando de satisfação – ou seria de febre?
Longos dias de quietude se passaram. A vela que iluminava durante toda noite o vento encarcerado nunca tremia. O pomar ao redor da casa era o silêncio tangível. O moinho jazia imóvel como o sonho dos descrentes. A vida em suma, perdera a alma, esmagada entre o vidro e a tampa de cortiça.
Não será preciso dizer que o homem caiu em si. Ele adorava o toque na pele, o arranhão na epiderme, a vastidão das fragrâncias e suas possibilidades infinitas. Mas amor, amor mesmo, ele amava a sua liberdade.
Dize-se – não posso dar certeza, não estava lá, mas gosto de acreditar na lenda – dize-se, repito, que quando o vento foi libertado, ele voou pra longe num ímpeto só e parecia que nunca mais voltaria.
Mas voltou, respondendo aos gritos desesperados do homem, seus eu te amos atirados, e o ruído do ar batendo no trigo parecia o som – tão familiar – de uma voz, em uma suave declaração.
Uma declaração de amor eterno.


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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Existe linguagem “errada”?




 Existe linguagem “errada”?
O título da matéria de capa da revista Educação, publicada em março de 2003, é o seguinte: O PORTUGUÊS DE LULA É UM MAU EXEMPLO?
O texto é de Josué Machado. Ele comenta a polêmica sobre o mau exemplo que Lula poderia representar para o ensino de língua em nossas escolas. Ao longo do seu texto, o autor recorre a depoimentos tanto de professores, gramáticos e outros profissionais que atuam principalmente na pesquisa ou ensino da língua quanto de empresários.
Você vai ler agora alguns desses depoimentos.
Procure observar com atenção o que pensa cada um dos entrevistados e quais são as justificativas que eles usam para suas opiniões.



a) Falar mal, o caminho da exclusão

Aceitar os erros de português, valorizando os usos e costumes orais, é justificável academicamente – e, no caso brasileiro, tornou-se uma questão da esfera politicamente correto desde que Luiz Inácio Lula da Silva virou presidente da República, sem deixar de tropeçar em concordâncias gramaticais.

Pega mal – muito mal, aliás – abordar criticamente os deslizes primários de Lula na norma culta. Rebatem-se as críticas em considerações sobre o preconceito, falta de respeito com o “povo”, insensibilidade social. O problema é que, para o cidadão comum, não existe anistia gramatical; o mercado profissional e o ambiente educacional não perdoam.

Goste-se ou não, para prosperar num emprego, o indivíduo é obrigado a falar corretamente, pelo menos sem erros vexaminosos; é algo parecido com se vestir adequadamente. Já na seleção profissional, os entrevistadores medem o candidato pela capacidade de articulação e expressão. É o primeiro quesito eliminatório. (...)

Não falar bem, escorregando em normas básicas, é uma defasagem aos olhos de quem emprega e de quem aprova nos testes escolares. É tão grave, na lógica do mercado, quanto não lidar com os códigos culturais e digitais contemporâneos. Faz parte do caminho da exclusão.

Gilberto Dimenstein, jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo.



b) “Ninguém fala errado, todo mundo fala o idioma usado em sua comunidade. Lula usava uma linguagem informal dependendo de seu público. E mudava esse nível quando falava para auditórios. Não vai haver mudança no ensino da língua com o Lula ou qualquer outro presidente, de maior ou menor bagagem intelectual. O Lula, se não atingiu esse conhecimento pela escolaridade, o fez pelo contato. Pode-se questionar o conteúdo do que ele fala, não a forma.”

Evanildo Bechara, professor, membro da Academia Brasileira de Letras

c) “Lula já cometeu mais deslizes, ainda comete alguns, que professores também cometem. FHC, que usava um registro mais formal teria, então, influenciado crianças de Norte a Sul do país. Xuxa falava tudo com “x” – mães e educadores ficaram preocupados, mas não houve interferência nenhuma. Não votei no Lula, não sou do PT, posso falar com tranqüilidade. A linguagem é algo em constante transformação, não um apanhado de exemplos.”

Maria Thereza Fraga Rocco, vice-diretora executiva da Fuvest e professora de português da USP.

d) “O estudante precisa ter uma preocupação muito grande com a maneira como ele fala. Acho que depende da empresa. Se for em uma área mais rebuscada, talvez houvesse uma certa dificuldade na contratação de alguém que fale como Lula. Se for uma empresa de comunicação informal, não há problema. Mas ele não seria aceito em qualquer empresa. É diferente do FHC, mais formal, mais distante. O Lula é da massa, é um português para o povo.”

Márcia Regina Hipólito, coordenadora institucional da central de estágios

Atividade 1
Qual dos quatro comentários expressa uma opinião mais próxima da sua? Por quê?
Atividade 2
Produza um artigo de opinião defendendo o ponto de vista escolhido:

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 PRODUÇÃO D@S ALUN@S



Não falamos errado nos expressamos de maneiras diferentes
Por Eduarda Vanessa Reichert



Ninguém fala errado, nos expressamos de formas diferentes. E é sobre isso que eu vou falar!
As pessoas falam o idioma usado em suas comunidades, ficaria até chato uma pessoa falar de maneira formal em meio a varias outras falando de maneira informal.
Ninguém fala errado, se houver comunicação entre uma pessoa e outra não a nada de errado. Mas se não houver comunicação ai podemos dizer que está errado.
Em minha opinião, não dar emprego a pessoas só por que elas falam a linguagem culta, é preconceito. Por que se souber se expressar de uma maneira que os outros entendam, existe comunicação, e não é necessário essa comunicação ser totalmente formal.
Então, podemos concluir que, as pessoas não falam errado elas apenas se expressam de muitas maneiras diferentes, e que só por que nem todas as pessoas falam a linguagem culta, deve-se negar emprego a elas. Afinal só não é certo quando não há comunicação.
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